III Seminário do GELCIA

Estratégias para o fortalecimento de línguas, culturas e histórias no contexto amazônico

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Evento

O III Seminário do Grupo de Estudos Linguísticos de Línguas e Culturas Indígenas da Amazônia (GELCIA) ocorrerá na forma híbrida (com participações presencias e virtuais). Nesta edição o tema principal será “Estratégias para o fortalecimento de línguas, culturas e histórias no contexto amazônico“, com apresentações também sobre outros temas pertinentes relacionados ao contexto linguístico, literário, cultural, histórico ou social da Amazônia.

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16 e 17 de Agosto de 2022 - Evento Híbrido

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Local

Sala 14 do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPA

Todas as sessões do III Seminário do GELCIA serão transmitidas pelo canal do GELCIA – UFPA no Youtube

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Palestra de Abertura

Lançamento do Atlas

Comunicações Individuais 1

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Comunicações Individuais 3

Comunicações Individuais 4

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Inscrição

Preços

Valores para incrição com apresentação

Estudante de Graduação

R$ 20,00

Prof.  Ensino Médio

R$ 35,00

Estudante de Pós-Graduação

R$ 45,00

Prof. Ensino Superior

R$ 65,00

Valores para ouvintes com certificado

Ouvintes

R$ 15,00

Como se increver

As inscrições devem ser enviadas para o email abaixo:

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O pagamento deve ser realizado por Pix utillizando a chave:

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Atlas Enciclopédico Apurinã

A primeira versão do Atlas Enciclopedico Apurinã será lançada durante o envento. Para acessar o material clique no botão abaixo:

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APRESENTAÇÕES

Estudos Linguísticos

ASPECTOS DA CAUSATIVIZAÇÃO NA LÍNGUA ASURINÍ DO XINGU

Antônia Alves Pereira (UFPA) - antonia@ufpa.br

Resumo

A causativização é um fenômeno recorrente nas línguas. Fillmore (1976, p. 182), entre outros autores, analisa-a como um fenômeno linguístico universal. Esse mecanismo está ligado aos componentes semântico, morfológico e sintático, acarretando alterações na significação e na configuração da sentença, afetando a estrutura de participação, a valência e outros mecanismos diretamente relacionados ao fenômeno. Partindo dessa visão sobre causativização, o objetivo deste trabalho é discutir alguns aspectos da causativização na língua Asuriní do Xingu (Tupí-Guaraní), falada pelo povo Asuriní do Xingu que vive no município de Altamira, estado do Pará. O trabalho focaliza alterações semânticas e morfossintáticas pelas quais passa uma sentença derivada por causativização. Os resultados da pesquisa mostram que a causativização morfológica é o tipo predominante nessa língua, sendo os morfemas {mu-}, {eru-} e {-ukat}, responsáveis por ela. Esses causativos, ao se anexarem a uma raiz verbal, introduzem um novo participante no discurso, que assume o papel de causer, fazendo surgir mais um argumento, alterando a estrutura argumental da sentença. Verbos monovalentes passam a bivalentes e estes últimos a trivalentes. O trabalho segue os pressupostos da linguística tipológico-funcional. Os dados foram coletados por nós durante nossas pesquisas junto ao grupo e são provenientes de elicitações, narrativas míticas, narrativas de experiência pessoal e conversas em contexto natural, sendo testados, posteriormente, com apoio de falantes nativos.

 

Palavras-chave: Causativos; Semântica; Morfologia; Sintaxe.

ESTUDO INTRODUTÓRIO SOBRE A LÍNGUA XIKIYANA (KARÍB)

Iohana Victória Barbosa Ferreira - iohanabferreira@gmail.com

Resumo

Os Xikiyana atualmente vivem na região da Terra Indígena Parque do Tumucumaque, juntamente a populações das etnias Tiriyó, Kaxuyana e Akuriyó. Neste contexto evidencia-se o prestígio conferido a língua Tiriyó em detrimento as demais línguas, principalmente em relação a língua Xikiyana, objeto desta pesquisa, a qual possui um número de falantes reduzido que, de acordo com algumas constatações realizadas durante o período de coleta de dados, há apenas um pequeno grupo de falantes e alguns lembrantes desta língua, localizados na aldeia Mësepi. Devido a quantidade de falantes da língua, podemos observar em diversos cenários como na escola, na comunidade ou até mesmo quanto a quantidade de estudos linguísticos direcionados a essa língua a discrepância que o Xikiyana possui em relação as demais línguas do Complexo do Tumucumaque. Em vista disso, o presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo preliminar da vitalidade da língua Xikiyana. A coleta de dados está sendo realizada junto a um casal de falantes da língua Xikiyana e análise é de base pikeana, visto que a pesquisa busca realizar um estudo fonético-fonológico da referida língua. Ao final, este estudo pode fomentar material para uma maior compreensão de uma realidade linguística pouco estudada pela universidade brasileira, fornecendo conhecimento científico acerca da língua Xikiyana, buscando subsidiar políticas linguísticas de revitalização e valorização para essa língua, dentre elas, a sua presença na sala de aula das escolas indígenas da região.


PALAVRAS-CHAVE: Língua Xikiyana; Documentação; Tumucumaque.

UMA PROPOSTA PRELIMINAR SOBRE O ESTUDO DA ESTRUTURA ARGUMENTAL DE VERBOS NÃO CANÔNICOS DA LÍNGUA APURINÃ

Gabriela de Andrade Batista (UFPA) - gabrieladeandrade1995@gmail.com

Resumo

A causativização é um fenômeno recorrente nas línguas. Fillmore (1976, p. 182), entre outros autores, analisa-a como um fenômeno linguístico universal. Esse mecanismo está ligado aos componentes semântico, morfológico e sintático, acarretando alterações na significação e na configuração da sentença, afetando a estrutura de participação, a valência e outros mecanismos diretamente relacionados ao fenômeno. Partindo dessa visão sobre causativização, o objetivo deste trabalho é discutir alguns aspectos da causativização na língua Asuriní do Xingu (Tupí-Guaraní), falada pelo povo Asuriní do Xingu que vive no município de Altamira, estado do Pará. O trabalho focaliza alterações semânticas e morfossintáticas pelas quais passa uma sentença derivada por causativização. Os resultados da pesquisa mostram que a causativização morfológica é o tipo predominante nessa língua, sendo os morfemas {mu-}, {eru-} e {-ukat}, responsáveis por ela. Esses causativos, ao se anexarem a uma raiz verbal, introduzem um novo participante no discurso, que assume o papel de causer, fazendo surgir mais um argumento, alterando a estrutura argumental da sentença. Verbos monovalentes passam a bivalentes e estes últimos a trivalentes. O trabalho segue os pressupostos da linguística tipológico-funcional. Os dados foram coletados por nós durante nossas pesquisas junto ao grupo e são provenientes de elicitações, narrativas míticas, narrativas de experiência pessoal e conversas em contexto natural, sendo testados, posteriormente, com apoio de falantes nativos.

 

Palavras-chave: Causativos; Semântica; Morfologia; Sintaxe.

EMPRÉSTIMOS LINGUÍSTICOS E OUTROS TIPOS DE NEOLOGIA EM APURINÃ: Uma abordagem histórica (interna e externa) da língua

Alessandra da Costa Carvalho, Sidney da Silva Facundes

Resumo

Este trabalho realiza uma reflexão teórica acerca dos empréstimos linguísticos que ocorrem na língua Apurinã, sobretudo no que se refere à observação das origens do referido fenômeno, em relação ao contato com outros povos e sua contribuição para a formação da língua e do povo. Apurinã designa uma etnia e unidade linguística pertencente à família de línguas Aruak. Há ainda uma imprecisão quanto à esta população, que se divide em 24 terras indígenas localizadas pela extensão do rio Purus, no sudoeste da Amazônia. Diante disso, observa-se que os empréstimos são indispensáveis para ajudar a compreender contatos e relações sócio-históricas vividas por um povo. Os dados foram obtidos a partir do levantamento de palavras emprestadas de outras línguas indígenas e do português, atestadas em pesquisas anteriores (FACUNDES 2000, 2002, 2007, 2016, 2019; BRANDÃO, 2006, 2011 e LIMA- PADOVANI, 2016, 2020a, 2020b) e organizadas no FLEx (banco de armazenamento de dados), e que ainda não haviam sido analisadas à luz da literatura sobre línguas em contato. A análise centra-se em discutir a mudança linguística (MARTELOTTA, 2011), que ocorre por meio da neologia por empréstimos (I. ALVES, 1984; M. ALVES, 2013), considerando premissas da linguística histórica (FARACO, 2006), especialmente sobre línguas em contato, da sociolinguística variacionista (MOLLICA; BRAGA et al., 2006) e cognitiva (SILVA, 2009a; 2009b; 2014; WIEDERMAN, 2014), e Semântica Cultural (FERRAREZI JR, 2018). Até então, percebemos que a língua portuguesa é a língua de maior contato e foi incorporada para Apurinã por meio de elementos industrializados, alguns relacionados à cultura material e agricultura e animais.


PALAVRAS-CHAVE: Apurinã. Contatos linguísticos. Empréstimos linguísticos.

MARCAÇÃO DO SUJEITO INTRANSITIVO EM MẼBÊNGÔKRE

Resumo

As construções com verbos monovalentes na língua Mẽbêngôkre desperta-nos bastante interesse, em vista do comportamento que apresenta o sujeito de alguns destes verbos. O Mẽbêngôkre é uma língua da família Jê, pertencente ao subagrupamento Jê Setentrional, falada pela nação Kayapó, no Pará e no Mato Grosso e, pela nação Xikrin, no Pará. Observa-se que embora o povo Mẽbêngôkre seja constituído por uma população relativamente numerosa, isso por si só não é garantia de sobrevivência duradoura da língua. Assim, o objetivo do trabalho é apresentar dados sobre a forma como é marcado o sujeito de verbos intransitivos. O trabalho apresenta dados provenientes de pesquisa de campo, com a consultoria de falante nativo da língua Mẽbêngôkre. A coleta dos dados foi feita com a gravação de fala espontânea de atividades ligadas à realidade do consultor indígena e por meio de elicitação. A cisão em verbos intransitivos vem sendo tema de discussão nas línguas do mundo já faz algum tempo. Trabalhos como os de Dixon (1994), Creissels (2008), Bickel (2011) e Haspelmath (2011), dentre outros, tratam da ‘intransitividade cindida’. Os verbos intransitivos costumam ser divididos em dois grupos (Perlmutter, 1978; Burzio, 1982), o grupo dos intransitivos e o dos descritivos, este último apresentando propriedades mais nominais. Para as línguas Jê Setentrionais, os trabalhos de Castro Alves (2004); Barros e Castro Alves (2021a, 2021b), trataram do tema na língua Canela-Apãniekra, além de Ferreira (2003) para o Parkatêjê, Oliveira (2003) para o Apinajé e Amado (2004) para o Pykobjê. Todas essas línguas são do complexo dialetal Timbira. Para o Mẽbêngôkre/Kayapó, a intransitividade cindida foi tratada por Reis Silva (2001). Espera-se com este trabalho aprofundar um pouco mais o conhecimento sobre o comportamento do sujeito de verbos monovalentes na língua, considerando as diferentes possibilidades de marcação que este apresenta.
Palavras-chave: Intransitividade cindida. Língua Mẽbêngôkre. Verbos intransitivos.
Em relação à cisão na intransitividade em Mẽbêngôkre, observa-se que um conjunto de verbos apresentam a cisão. Assim, verbos intransitivos como ŋõɾ ‘dormir’, tɨ̃ ‘cair’ e tɨ ‘morrer’, na forma finita, expressam S semelhante ao A, ou seja, S é um argumento externo ao sintagma verbal, não marcado, expresso por pronome livre da série nominativa. S é expresso por nominais ou pronomes independentes, conforme exemplos (1) e (2) a seguir.
top sa v top sa v
1 ba nẽ ba tɨ̃ 2 ba nẽ ba ŋõɾ
1sg nfut 1sg cair 1sg nfut 1sg dormir
‘Eu caí.’ ‘Eu dormi.’

Por outro lado, os mesmos verbos intransitivos ŋõɾõ ‘dormir’, tɨ̃ ‘cair’ e tɨ ‘morrer’, na forma não finita, expressam S da mesma forma que O, ou seja, S é argumento interno ao sintagma verbal, marcado, expresso por prefixo de pessoa no verbo e, S é um argumento externo, não marcado, expresso por nominais ou pronomes independentes. Nestes casos, coocorrem um pronome livre e um prefixo de pessoa no verbo, ambos marcando S, conforme exemplos (3) e (4) a seguir.

top s so-v top s so-v
3 ga nẽ ga a-tɨ̃m ket 4 ga nẽ ga a-ɲõt ket
2sg nfut 2sg 2-cair neg 2sg nfut 2sg 2-dormir neg
‘Você não caiu.’ ‘Você não dormiu.’

No entanto, ainda que haja distinção na forma de marcar o argumento pronominal nos verbos intransitivos, não dá para afirmar de forma categórica, com base nessa distinção, que ocorre uma cisão entre verbos ativos/não ativos, como ocorre em outras línguas Jê, uma vez que verbos considerados ativos, tais como pɾõt ‘correr’ e kɛkɛt ‘sorrir’, são marcados por prefixos e duplicados por pronome nominativo, tanto na forma finita, quanto na forma não-finita, conforme exemplos (5) a (8) a seguir.

top s s-v top s s-v
5 ga nẽ ga a-pɾõt 6 ga nẽ ga a-pɾõt ket
2sg nfut 2sg 2sg-correr 2sg nfut 2sg 2sg-correrneg
‘Você correu.’ ‘Você não correu.’

top s s-v top s s-v
7 ba nẽ ba i-kɛkɛt 8 ba nẽ ba i-kɛkɛt ket
1sg nfut 1sg 1sg-sorrir 1sg nfut 1sg 1sg-sorrir neg
‘Eu sorri.’ ‘Eu não sorri.’

SISTEMAS INTERROGATIVOS EM LÍNGUAS INDÍGENAS SUL-AMERICANAS

Augusto Gasparre Braga Façanha (PG-UNIFAP) - augustogasparre@gmail.com

Resumo

A tipologia é uma área da Linguística que visa estabelecer padrões sistemáticos de diferenciação e variação estrutural entre as línguas, bem como entender o que é realizável ou não na linguagem humana, a partir do estudo de uma grande amostra de línguas. Assim, temos que, mais do que encontrar padrões ou tipicidades, a tipologia almeja descrever também fenômenos pouco atestados nas línguas, a fim de estabelecer um panorama mais diverso e confiável para seus estudos. Nesse sentido, a América do Sul é um cenário prolífico para estudos tipológicos, sendo uma das áreas linguísticas mais diversas, concentrando ¼ das famílias linguísticas do mundo e comportando fenômenos linguísticos raros e inovações não encontradas em outras regiões, como bem descrito por Rodrigues (2016), Mori (2012) e Storto (2019). O presente trabalho consiste num projeto de pesquisa em andamento no contexto do PPGLET, a partir do qual se visa um estudo tipológico das línguas indígenas sul-americanas com enfoque nos sistemas interrogativos, descrevendo suas principais estratégias de marcação (entonação, partículas, sufixação, inversão sintagmática etc.) e avaliando a presença de efeitos areais nos sistemas interrogativos das línguas. Para este fim, nos apoiaremos em Croft (2003), para o entendimento da disciplina de tipologia; em Siemund (2001) e Konig e Siemund (2007), para o entendimento de construções interrogativas; e em Haspelmath (2016) e sua definição de “conceitos comparativos”. A partir disso, pretendemos fazer a análise dos sistemas interrogativos de 32 línguas indígenas sul-americanas, de diferentes afiliações e distribuição geográfica diversa, e descrever e comparar suas estratégias de marcação. Com isso, espera-se a formação de um quadro representativo sobre o funcionamento interrogativo nas línguas originárias da América do Sul, contando também com a presença de línguas ameaçadas da região. Na apresentação, discutiremos os resultados preliminares obtidos.

Palavras-chave: Tipologia. Sistemas Interrogativos. Línguas Indígenas. América do Sul.

MASAKIROATA PUPYKARE PIRANA/VAMOS FALAR DAS HISTÓRIAS DO POVO APURINÃ

PEREIRA, Maria da Conceição Vasconcelos (UFPA) - concevpereira@gmail.com | FACUNDES, Sidney da Silva (Orientador-UFPA) - sfacundes@gmail.com

Resumo

Este trabalho apresenta um recorte do texto base da tese de doutorado em estudos linguísticos-UFPA (em andamento) provisoriamente intitulada “ Masakiroata Pupykare Pirana/Vamos falar das histórias do povo Apurinã”. Assim, para o corpus escolhido o objetivo apresentado se constitui de Apresentar a análise de uma narrativa coletiva Apurinã à luz dos estudos de Labov e Waletzky (1967), principalmente; Mostrar a adaptação de referida narrativa para a forma ilustrada, em Língua Portuguesa e Língua Apurinã, como proposta didático-pedagógica para o ensino de leitura, oralidade e escrita bilíngue, com destaque para a Língua Apurinã, como Língua 2. A metodologia utilizada consiste em seleção da narrativa, tradução para a língua Apurinã e ilustrações do texto feitas por membros da comunidade Apurinã; construção da proposta didático-pedagógica de leitura escrita e oralidade, em parceria com professores e/ou falantes da língua nas comunidades Apurinã com sugestão de aplicação didática para o ensino e vitalização da língua Apurinã e análise dos professores que contribuíram com a proposta. As reflexões suscitadas pelo estudo levam-nos a considerar que as narrativas coletivas indígenas veiculam não somente o pensamento de uma época, mas também podem reproduzir a história e a língua desses povos, estas são seu maior patrimônio e por esse motivo a utilização de tais narrativas como ferramenta de estudo de leitura, escrita e oralidade de Língua 2 é tão importante. A proposição como estudo acadêmico caminha na perspectiva dos estudos linguísticos, consolidando-se como uma sugestão para o ensino e fortalecimento da respectiva Língua 2 (Apurinã) nas comunidades Apurinã. A proposta sustenta-se na perspectiva dos estudos teóricos de Biber (1988) Labov e Waletzky (1967), Marcuschi (2001/2008), Travaglia (2003/2007), Ginzburg(2008), Agambem(2004/2005/2007), Bourdieu (1983), Bosi (1986) e Giroux (1986,1997).

 

Palavras-chave: Narrativas Apurinã. Estudos da narrativa. Ensino e Fortalecimento da língua Apurinã.

GLOSSÁRIO TERMINOLÓGICO SOBRE FLORA APURINÃ: DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE PROCESSOS SEM NTICOS.

Alice Silva Alves Braga (UFPA)

Resumo

Esta pesquisa descreve a metodologia utilizada para a elaboração de um glossário bilíngue sobre flora da língua indígena Apurinã (família linguística Aruak), com direção Apurinã-português. Além de descrever este processo, analisa a flora a partir de dois fenômenos semânticos: meronímia, que consiste na relação parte-todo, e taxonomia, em que se verifica a constituição taxonômica folk. Dessa forma, o trabalho tem como objetivo contribuir para a documentação da língua e de conhecimentos tradicionais botânicos do povo Apurinã, por meio da descrição e análise dos termos. O estudo da meronímia em Apurinã baseia-se em Facundes (2000), Freitas (2017) e Freitas e Facundes (2020). Em taxonomia, o estudo fundamenta-se em Berlin (1992) e Cruse (2000). Para a composição do glossário, abordam-se áreas da linguística como a Terminologia (KRIEGER; FINATTO, 2004), Teoria Comunicativa da terminologia (CABRÉ, 1999) e Socioterminologia (FAULSTICH, 1995; 2006). No que concerne à semântica, verifica-se a relação parte-todo de merônimos/holônimos canônicos e facultativos conforme Cruse (1986), além de confirmar um padrão de marcação morfossintática atestado em Freitas e Facundes (2020). Em taxonomia, a partir dos princípios propostos por Berlin (1992), verificam-se três níveis taxonômicos folk em Apurinã. Espera-se que o produto deste trabalho possa contribuir para o fortalecimento dos conhecimentos tradicionais botânicos, além de somar para o aprofundamento no estudo da língua Apurinã.


Palavras-chave: Apurinã; Flora; Glossário.

Cisão ergativa em duas línguas Jê Setentrionais: Canela e Kajkwakhratxi (Tapayuna)

Resumo

O objetivo deste estudo está em comparar as construções ergativas em duas línguas Jê Setentrional (doravante, JS): o Canela Apànjêkra e o Kajkwakrhatxi (Tapayuna). Conforme explicitado por Castro Alves (2010) e Castro Alves & Gildea (2020), três línguas JS apresentam alinhamento ergativo-absolutivo apenas em construções dependentes, casos do Mẽbêngôkre, Kĩsêdjê e Apinajé. Em contrapartida, nas línguas Canela e Kajkwakhratxi, há construções independentes (orações principais) que são organizadas a partir de um alinhamento ergativo. A partir das descrições existentes para essas duas últimas línguas (Castro Alves, 2004; Camargo, 2015), sabe-se que seu alinhamento sintático é condicionado por traços aspectuais, modais e de polaridade da construção. Em Canela, as construções ergativas são aquelas de aspecto perfectivo, tempo passado recente (1) e, geralmente, não- progressivas. Em Kajkwakhratxi, são as construções no futuro (2), progressivo e de aspecto imperfectivo que aparecem alinhadas com um padrão ergativo-absolutivo. Sabe-se que o padrão ergativo associa-se a construções transitivas e, conforme Hopper & Thompson (1980), construções no tempo passado e aspecto perfectivo estão em um ponto mais alto na hierarquia de transitividade. O interessante é que essa implicação entre ergatividade e transitividade é atestada em Canela, mas não em Kajkwakhratxi, que apresenta um padrão ergativo aparentemente inesperado quanto a uma cisão baseada em tempo e aspecto. Com base em uma metodologia tipológica-funcional-histórica (Givón, 2001; DeLancey, 1981), nossa hipótese é a de que as construções ergativas nessas duas línguas estão atreladas à agentividade do argumento marcado com a posposição ergativa e não pela afetação do paciente.

 

Palvras-chave: cisão ergativa; Jê Setentrional; Timbíra; Tapayuna

ASPECTOS FONÉTICO-FONOLÓGICOS DO PB EM USO NA VILA DE MAZAGÃO VELHO-AP

Ana Silvestre da Silva Santos, Janete Selma Mendes Monteiro Ribeiro, Antonio Almir Silva Gomes

Resumo

O presente artigo tem escopo sobre aspectos fonético-fonológicos do Português Brasileiro (PB) em uso na vila de Mazagão Velho, Estado do Amapá, e envolveu entrevistas com moradores locais, levantamento bibliográfico e análise de documentários como vídeos e gravações antigas. O ponto de partida da pesquisa cujos resultados são apresentados no artigo foram as experiências vivenciadas pelos autores, que consideraram a história linguística de Mazagão contada por moradores locais e, a partir disso, questionaram-se: é possível pensar em variedades fonético-fonológicas de PB específicas deste lugar, em detrimento de variedades faladas em outras regiões do estado do Amapá, tais como Oiapoque, na fronteira com a Guiana Francesa, ou Vale do Jari, na fronteira com o estado do Pará? A pergunta em questão foi usada para a aquisição das informações resultantes dos aspectos identificados na fala de moradores da Vila, e que envolvem desde processos espraiados pelo território nacional, como alçamento vocálico e lenição consonantal, até o processo considerado peculiar de alomorfia [s] e [ʃ] em posição de onset. A considerar a história da Vila de Mazagão Velho, esses aspectos parecem apontar para um processo de mudança fonético-fonológica do PB falado pela população, mas também para um processo de manutenção de fenômenos ao longo dos séculos.

Palavras chave: Aspectos fonético-fonológicos; Mazagão Velho; Amapá.

BREVE ESTUDO DO SUFIXO {-INH} E SUA RELAÇÃO DISCURSIVO- IDENTITÁRIA EM UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA DO ESTADO DO AMAPÁ: QUANDO CULTURA E LÍNGUA SE ENTRELAÇAM

Cilene do Carmo Monteiro Antonio Almir Silva Gomes

Resumo

O Estado do Amapá é possuidor de aproximadamente de 40 comunidades quilombolas reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares. Dentre essas, encontra-se a comunidade Carmo do Maruanum, nosso lugar de pesquisa, localizada a 80 km da cidade de Macapá, capital do Estado do Amapá. Tal comunidade insere-se no que se convencionou chamar Distrito do Maruanum, onde vivem cerca de três mil moradores descendentes de negros escravizados, distribuídos em 16 vilas ou comunidades ao longo do Rio Maruanum. Dentre tantos aspectos culturais representativos desses moradores, encontram-se as Louçeiras do Maruanum, grupo de mulheres artesãs que transformam o barro e a argila em louças, reiterando uma tradição cultural repassada de geração em geração. O presente trabalho, inserido no contexto de uma pesquisa em andamento cujo objetivo são as relações identitário-discursivas, deparou-se com o uso reiterado por essas mulheres do sufixo {-inh}. Tal uso, de maneira geral, tem-se mostrado ao longo do estudo bastante produtivo e atrelado a questões das próprias identidades das louçeiras. O trabalho discute alguns desses usos identificados no corpus, construído através de pesquisa de campo envolvendo entrevistas gravadas em áudio. Como resultado, vislumbramos a relação do uso do sufixo com as questões identitárias e culturais inerentes das louçeiras. Do ponto de vista das ciências linguísticas, tem-se com o trabalho um forte argumento em favor da concepção de língua atrelada às intenções do evento de fala, de seus participantes e do próprio contexto (NICHOLS, 1984); língua e cultura entrelaçados pelo uso.


Palavras-chave: Louçeiras do Maruanum. Sufixo –inh. Uso. PB.

Fortalecimento de Línguas Indígenas não-cooficializadas em São Gabriel da Cachoeira/Amazonas

Jonise Nunes Santos (UFAM), Ana Carolina Ferreira Alves (UFAM), Zilma Rosana Acevedo (SEMED-SGC/UEPA/PPGED)

Resumo

O trabalho apresenta o projeto, em andamento, de criação do Centro Etnico-Linguistico de São Gabriel da Cachoeira/Amazonas, considerando que, das 19 línguas Indígenas presentes no Território do município, apenas 04 (quatro) são cooficializadas, ocasionnando, na cidade, processo de silenciamento das demais línguas, cujos falantes se apropriam do Português ou de alguma das línguas cooficiais para concluírem, a educação básica. Porém, na cidade há docentes, graduados e pós-graduados, e diversos anciãos que ainda recordam de conhecimentos tradicionais e dominam muitas línguas indígenas não-cooficializadas, e que poderiam realizar atividades em atenção a essas línguas. Nesse sentido, foi proposto à Assessora Pedagógica, do Departamento de Educação Escolar Indígena, da Secretaria Municipal de Educação de São Gabriel da Cachoeira, a criação de atividades pedagógicas extra-classe, em horário oposto às aulas, em atenção às línguas indígenas. Por sua vez, a Assessora ajustou a proposta, transformando-a no Centro Étnico-Linguistico, que se configura como espaço de “encontros de gerações, de conhecimentos, de povos, e de fortaleciemnto identitátio e linguístico”, em atividades subsidiadas pela Semed, em parceria com o Núcleo de Esudos e Pesquisas de Povos Tradicionais da Pan-Amazônia, do Departamento de Educação Escolar Indígena, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Aamzonas. Metodologicamente, utilizaremos a Pesquisa-Ação (THIOLLENT e COLETTE, 2014, p. 207), “alternativa qualitativa”, que parte de ações pedagógicas” para “afirmação da diversidade cultural”, com participação dos próprios interessados envolvidos no processoo. Nesse sentido, no Centro, ocorrerão atividades a partir de um conhecimento tradicional, para que o aprendizado e fortalecimento linguistico não seja descontextualizado e para que as pessoas “revivam”, teoricamente, conhecimentos e memórias de seus antepassados. Paralelamente, a língua vai sendo apresentada e, posteriormente, inseri-se o processo de registro escrito ou em outro formato, dependendo do tema abordado. Para cada língua, haverá atividades específicas, com pessoas do respectivo povo e falante da respectiva língua.

 

Palavras-Chave: Diversidade Étnico-Linguística. Línguas não cooficializadas. Fortalecimento Linguistico. São Gabrel da Cachoeira.

Pesquisa-Ação e Fortalecimento de Línguas Indígenas em Novo Airão/Amazonas

Ivete Alves de Morais Tukano (UFAM), Jonise Nunes Santos (UFAM)

Resumo

O trabalho apresenta o projeto, em andamento, em Novo Airão/Amazonas, que contabiliza presença de diferentes povos indígenas, desde seu processo de criação, ainda no século XVII, como missão, que foi silenciando as línguas de muitos povos, até a primeira década do século XXI, quando lideranças começaram a participar do Fórum de Educação Escolar e Saúde Indígena do Amazonas – FOREEIA e a reivindicar escolas, conforme garante a legislação. Porém, o aspecto linguístico não foi observado, apesar do direito nos ordenamentos jurídicos específicos dos povos indígenas, considerando que a escola deve fortalecer os processos próprios de aprendizagem e realizá-los usando a(s) língua(s) do(s) povo(s) atendido (s). Os objetivos do Projeto são: Geral – Realizar o levantamento sociolinguístico e identitário étnico nas aldeias – e Específicos: Levantar as identidades étnicas nas comunidades tradicionais; Identificar as línguas tradicionais, uso e situação sociolinguística. Metodologicamente, utilizaremos a Pesquisa-Ação, que, conforme Thiollent e Colette (2014, p. 207), configura-se “como alternativa qualitativa, em no contexto da educação e da formação de professores, levando em conta ações pedagógicas”, contrapondo-se “à tendência uniformizadora de gestão e de educação”, delineando “a afirmação da diversidade cultural”, com participação dos próprios interessados envolvidos no processo, aos quais não se pode impor um modelo externo e único de ação”. Nessa perspectiva, e inspirado na realidade amazônica, a pesquisa-ação poderá dar “lugar às especificidades nos diversos processos formativos e no exercício da docência”. A instrumentalização dos membros das aldeias para participar da pesquisa ocorrerá em oficinas: Alfabetização Científica (livre), voltada aos conhecimentos sociolinguísticos; Instrumentos básicos – Etnomapeamento e Etnozoneamento – da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial Indígena (BRASIL, 2012), visando refletir e identificar sobre os diversos contextos de uso da língua para Mapeamento Linguístico, que indicará o perfil linguístico dos Territórios para ser elaboradas políticas em atenção ao cumprimento de direitos.

 

Palavras-Chave: Diversidade Linguística. Povos Indígenas. Direito à Língua. Novo Airão.

Discurso, Diversidade e Racismo Linguístico: O lugar do “diverso” e o lugar do “comum” no componente Curricular de Língua Portuguesa.

Carla Letícia Macêdo de Paiva (PET Letras - UFPA)

Resumo

Assumindo uma perspectiva político-discursiva sobre o fenômeno da linguagem, este trabalho tem por finalidade investigar as relações interdiscursivas (MAINGUENEAU, 2008) que sustentam os efeitos de sentido em enunciados nos quais aquilo que é diverso e aquilo que é básico-comum ocupam posições divergentes, como nas competências específicas da área de Linguagens, prescritas na BNCC. Diante desse arranjo discursivo, chega-se à reflexão sobre o verdadeiro lugar dos povos indígenas e das comunidades tradicionais da Amazônia nos currículos oficiais que regem a educação brasileira, uma vez que as suas contribuições linguísticas, históricas e culturais são preconizadas somente à margem das chamadas “aprendizagens essenciais”, em um espaço denominado de “conteúdos mínimos”. Essa cena enunciativa, por sua vez, encontra-se atravessada por enunciados que configuram como uma das materialidades do racismo linguístico (NASCIMENTO, 2019) institucionalizado nas políticas linguísticas do Estado. O conceito de racismo linguístico refere-se, em linhas gerais, a um jogo discursivo que não para de produzir racialização (NASCIMENTO, 2019) com a finalidade de criar sub-representações de determinados grupos não-brancos, podendo, ainda, estabelecer um espaço de não-ser para esses grupos historicamente marginalizados enquanto falantes. Nesse sentido, esta abordagem tem como objetivo, também, reconhecer e combater a colonialidade ainda tão enraizada em nossa sociedade, nas estruturas que a mantêm e nas práticas discursivas e não discursivas em diferentes esferas da atividade humana.


Palavras-chave: Componente curricular; povos tradicionais; prática discursiva; racismo linguístico.

MAPEAMENTO PRELIMINAR DA VARIAÇÃO ENTRE [ɾ] E [l] EM APURINÃ

Cinthia Samara de Oliveira Ishida (UFPA) - cinthiaishhida@gmail.com

Resumo

O presente trabalho tem o objetivo de apresentar parte do estudo em desenvolvimento, no projeto de Atlas Enciclopédico Apurinã, que possui um foco maior no mapeamento das variações fonológicas da língua. Entre essas variações, há o caso de alofonia do fonema /ɾ/, que pode se realizar como /l/ quando está diante da vogal central /i/ ou da vogal alta anterior /i/ (LIMA-PADOVANI, SILVA, FACUNDES, 2019, p. 166). Estudos feitos por Pereira (2007), Lima-Padovani (2016) e Lima-Padovani, Silva & Facundes (2019) atestam essa variação como importante marcador dialetal nas comunidades Apurinã. A partir disso, este trabalho visa representar de forma espacializada essa variação ao longo das comunidades Apurinã, além de verificar a importância da geografia para a distribuição dessas variantes, a partir da construção de cartas linguísticas. Para isso, a metodologia do trabalho se constituiu na coleta de dados, a partir da revisão da literatura (FACUNDES 2000, PEREIRA 2007, LIMA-PADOVANI 2016) e do levantamento de dados primários em trabalhos de campo. O trabalho resultou na produção preliminar de cartas linguísticas, construídas por meio de ferramentas SIG – Sistemas de Informação Geográfica, como ArcGis e QGis – que auxiliaram na visualização dos dados. As cartas linguísticas desenvolvidas permitem um maior entendimento da língua, a partir das características próprias de cada comunidade, assim como promovem a documentação do território Apurinã.

Palavras-chave: variação; geolinguística; Apurinã

MARCAÇÃO DO SUJEITO INTRANSITIVO EM MẼBÊNGÔKRE

Autores:

Resumo

As construções com verbos monovalentes na língua Mẽbêngôkre desperta-nos bastante interesse, em vista do comportamento que apresenta o sujeito de alguns destes verbos. O Mẽbêngôkre é uma língua da família Jê, pertencente ao subagrupamento Jê Setentrional, falada pela nação Kayapó, no Pará e no Mato Grosso e, pela nação Xikrin, no Pará. Observa-se que embora o povo Mẽbêngôkre seja constituído por uma população relativamente numerosa, isso por si só não é garantia de sobrevivência duradoura da língua. Assim, o objetivo do trabalho é apresentar dados sobre a forma como é marcado o sujeito de verbos intransitivos. O trabalho apresenta dados provenientes de pesquisa de campo, com a consultoria de falante nativo da língua Mẽbêngôkre. A coleta dos dados foi feita com a gravação de fala espontânea de atividades ligadas à realidade do consultor indígena e por meio de elicitação. A cisão em verbos intransitivos vem sendo tema de discussão nas línguas do mundo já faz algum tempo. Trabalhos como os de Dixon (1994), Creissels (2008), Bickel (2011) e Haspelmath (2011), dentre outros, tratam da ‘intransitividade cindida’. Os verbos intransitivos costumam ser divididos em dois grupos (Perlmutter, 1978; Burzio, 1982), o grupo dos intransitivos e o dos descritivos, este último apresentando propriedades mais nominais. Para as línguas Jê Setentrionais, os trabalhos de Castro Alves (2004); Barros e Castro Alves (2021a, 2021b), trataram do tema na língua Canela-Apãniekra, além de Ferreira (2003) para o Parkatêjê, Oliveira (2003) para o Apinajé e Amado (2004) para o Pykobjê. Todas essas línguas são do complexo dialetal Timbira. Para o Mẽbêngôkre/Kayapó, a intransitividade cindida foi tratada por Reis Silva (2001). Espera-se com este trabalho aprofundar um pouco mais o conhecimento sobre o comportamento do sujeito de verbos monovalentes na língua, considerando as diferentes possibilidades de marcação que este apresenta.


Palavras-chave: Intransitividade cindida. Língua Mẽbêngôkre. Verbos intransitivos.

Entre a Norma Culta e os Usos Coloquiais: a variação sintática no uso dos pronomes oblíquos encontrada entre jovens do bairro do Guamá, Belém do Pará.

Antônia Alves Pereira (UFPA) - antonia@ufpa.br

Resumo

Esta presente pesquisa tem como objetivo analisar como são utilizados os pronomes oblíquos, mais precisamente, a próclise, a mesóclise e a ênclise em um corpus de língua falada e escrita, em uma comunidade de fala formada por jovens do bairro do Guamá. Estima-se responder os seguintes questionamentos: “por que se usa mais uma forma x do que a Y?”; “Tal uso é mais frequente no corpus de língua falada ou no corpus de língua escrita?”; “há algum outro uso, além desse?”; “qual desses usos o falante/colaborador da pesquisa considera mais ‘correto’”, a fim de interpretar as ocorrências encontradas no corpus de pesquisa adotado. A importância de realizar tal estudo está, primeiramente, relacionada à importância de salientar que, além da norma culta, há outras normas que os usuários do português efetivamente utilizam. As situações de formalidade discursiva, em diferentes contextos, nos exigem o uso normativo dos pronomes, assim como na retomada de elementos no texto, na produção escrita de gêneros mais formais, por exemplo. Assim, uma outra questão relevante que também será discutida na pesquisa a ser realizada e diz respeito à ideia de que, por meio de atitudes e práticas, que podem ser planejadas ou não, é possível encarar a variação linguística enquanto algo natural da língua. Neste ponto, recorre-se ao conceito de Política Linguística, um campo de estudo relativamente novo no Brasil e que pode vir a auxiliar na adoção de práticas, no contexto escolar e fora dele, visando encarar a variação da língua como algo legítimo e não estigmatizado.


Palavras chave: Pronomes oblíquos, Variação, Sociolinguística.

A RELAÇÃO DOS APURINÃ COM OS KYMAPURY: caminhos de conhecimento, transmissão, produção, alteridade, existência e reconexão

Francisco Apurinã (Pesquisador da Universidade de Helsinque, Finlândia) - fr.apurina@gmail.com

Resumo

Além da fala propriamente dita, existem diferentes formas de comunicação. O povo Apurinã no uso de sua língua, transmissão e valores ancestrais, faz uso de diferentes elementos da natureza para se orientar e comunicar-se em seu cotidiano, com vista uma relação amistosa e de alteridade com os diferentes seres – humanos e não-humanos – no meio em que vive. Isso ocorre, percebendo o tempo das estações de chuva e sol, enchentes e vazantes dos rios e igarapés, canto das aves, floração e frutificação das plantas, aparecimento e reprodução dos peixes e de diversos animais. Além disso, nossos grafismos (pinturas corporais), as metades exogâmicas (xiwapurynyry e mẽetymanety), indumentárias e adornos são também elementos que falam. No entanto, proponho analisar nesse trabalho, a compreensão sobre a linguagem e a relevância dos kymapury (caminhos/varadouros) como espaços de proteção, conhecimento, transmissão, alteridade, alimento físico e espiritual, ressignificação, existência e reconexão. Pretendendo realizar esse estudo, pesquisando literaturas como: DESCOLA, Philippe/2016; FACUNDES, Sidney/2000; FERREIRA, Ana Patrícia Chaves/2013; LINK, Rogério Sávio/2016; NASCIMENTO, Patrícia da Costa/2019; SARMENTO, Francisco/2017; SCHIEL, Juliana/2004; VIRTANEN, Pirjo Kristiina/2021) VIVEIROS de Castro Eduardo/2015. Além dessa base teórica, terei como principais interlocutores/colaboradores meus parentes Apurinã, em especial os kiiumanhe (sábios) e professores bilingue de nossas aldeias, com os quais pretendo dialogar. O cumprimento dessa proposta de pesquisa, visa entre outras coisas, entender a importância dos kymapury para a existência, manutenção e continuidade dos Apurinã e quiçá do planeta.

 

Palavras-chaves: Apurinã; conhecimento; comunicação; kymapury.

Reconstrução do ramo Ramarama-Puruborá da família Tupi (Fase II)

Frida Natália Lobato de Albuquerque, Ana Vilacy Galúcio

Resumo

A classificação tradicional da família linguística Tupi identifica dez ramos principais da família: Arikém, Awetí, Juruna, Mawé, Mondé, Munduruku, Puruborá, Ramarama, Tupari e Tupi-Guarani (RODRIGUES, 1984/85). Ao longo das últimas décadas, os estudos históricos comparativos das línguas Tupi têm avançado, mas ainda faltam estudos comparativos sobre as relações internas entre os ramos da família, como, por exemplo, os ramos Ramarama e Puruborá. Esses dois ramos possuem apenas um membro cada, que são as línguas Karo e Puruborá, respectivamente. Estudos comparativos preliminares dessas duas línguas mostraram a existência de uma alta porcentagem de cognatos entre elas, em oposição às línguas dos outros ramos da família Tupi, assim como o compartilhamento de propriedades fonético-fonológicas, o que indicava a possibilidade de um sub-agrupamento genético envolvendo os ramos Ramarama e Puruborá, dentro da família Tupi (GALUCIO & GABAS JR., 2002, 2014). O presente trabalho, que foi realizado o período de vigência da bolsa de Iniciação Científica do Museu Paraense Emílio Goeldi, tem por objetivo geral contribuir para subclassificação interna da família Tupi, através da ampliação da comparação das línguas Karo e Puruborá e reconstrução de propriedades fonológicas e morfossintáticas da proto- língua do ramo Ramarama-Purubora por meio do método histórico-comparativo. A partir da aplicação do método haveria uma melhor descrição da proto-língua, o que contribuiria para sua documentação e para a revitalização de parte do inventário fonológico da mesma, podendo estabelecer as mudanças que ocorreram durante a transição para as línguas filhas. Com isso, como resultados obtidos neste estágio de consolidação da comparação das línguas Karo e Puruborá incluem as hipóteses de reconstrução de proto-sons consonantais (*p, *b, *t, *c, *k, *g, *ʔ *m, *n, *ɾ, *w, *j) e vocálicos (*i, *ɨ , *u, *e, *o, *ə , *a), bem como as hipóteses de reconstruções e de protoformas lexicais do ramo Rama-Puru que teriam originado as formas atuais nas línguas filhas, e deu-se início também à reconstrução morfossintática através da comparação dos classificadores nominais encontrados nas duas línguas descendentes.


Palavras-chaves: Reconstrução Interna; línguas Tupi; subagrupamento genético.

CONSTRUÇÃO DO ACERVO DE LÍNGUAS INDÍGENAS DA UFPA: ARQUIVO DE MULTIMÍDIA DE LÍNGUAS EM USO

Isabella Caroline Silva da Silva (UFPA) - isabella.silva@ilc.ufpa.br, Sidney da Silva Facundes (Orientador/UFPA) - sfacundes@gmail.com

Resumo

A Universidade Federal do Pará (UFPA) conta com um dos maiores grupos de especialistas em línguas indígenas do Brasil. As línguas atualmente estudadas são Apurinã, Parkatêjê, Munduruku, Mekens, Ikpeng, Paresi, Asuriní do Xingu, Makurap, e Paumari. Com tantos especialistas, uma grande quantidade de dados dessas línguas vem sendo compilada, porém que não conta com infraestrutura adequada para arquivo e preservação. O presente trabalho visa criar uma primeira coleção da língua Apurinã em uso que, espera-se, sirva de modelo para incluir todas as demais línguas indígenas pesquisadas por professores e discentes da UFPA. Portanto, para a criação do Acervo de Línguas Indígenas da UFPA: arquivo de multimídia de línguas em uso, faz-se necessário a existência desse suporte que supra e garanta a segurança, acesso, armazenamento e organização com os dados das pesquisas. A metodologia deste trabalho consistiu no levantamento dos dados já coletados para a língua Apurinã em áudio; em seguida, incluiu a organização, estratificação, seleção e armazenamento desses dados em nuvem e em um HD seguro e confiável. Tendo como base modelos de arquivamento de dados de outros países referência, como o AILLA da Universidade do Texas, e o curso “Simple Steps for Archiving Language Documentation Collections” promovido pelo (AILLA) também, foram organizados cerca de 2.348 dados coletados do material sob a responsabilidade de Facundes (2000), desde 1990 até os anos atuais.


Palavras Chave: Acervo de línguas; Línguas minoritárias; Linguística.

Estudos Literários

Nascimento e morte: um novo recomeço na “história do Timbó”

Mêrivania Rocha Barreto (PPGL/UFPA), Izabela Leal (orientadora)

Resumo

A partir do conceito de metamorfose defendido por Emanuelle Coccia (2020) e do perspectivismo ameríndio debatido por Eduardo Viveiros de Castro, pretende-se, neste trabalho, discutir como o nascimento e a morte, dois extremos que, a princípio, podem ser entendidos como antagônicos, levam à metamorfose e consequentemente à continuidade da vida na narrativa “A história do Timbó”. O trabalho é somente de pesquisa bibliográfica e apresenta como alguns dos referencias teóricos Coccia (2020), Fausto (2002), Flores e Fiorotti (2019), Sá (2020) e Viveiros de Castro (1986, 1996, 2002, 2015). Um dos resultados alcançados na pesquisa é a constatação de que no mundo ameríndio há uma multiplicidade de formas possíveis, de “roupas” que podem ser trocadas e/ou descartadas. Temos, como exemplo, o menino Timbó (nome próprio, ser vivo, humano) que após sua morte, suas gotas de sangue transformam-se na planta usada para capturar peixes, o timbó (nome comum, ser vivo, não-humano). Ao transformar-se em timbó, o menino “molda para si um novo corpo e uma nova forma para existir de uma maneira diferente” (COCCIA, 2020, p. 15). Nessa narrativa, o momento da morte aponta para uma experiência de transformação do corpo, já que o menino Timbó desnudou-se da roupa de humano e vestiu uma roupa de planta: o timbó “foi produzido por uma pessoa, que nasceu sendo Timbó, morreu sendo timbó” (FIOROTTI e FLORES, 2019, n.p.).

 

Palavras-chave: metamorfose, perspectivismo, “a história do Timbó”, nascimento, morte.

VELHICE, SABEDORIA E FEMININO: REFLEXÕES SOBRE O PROTAGONISMO DA MULHER VELHA EM NARRATIVAS ORAIS DA MATINTAPERERA

Andressa de Jesus Araújo Ramos, Maria do Perpétuo Socorro Galvão Simões

Resumo

As pesquisas realizadas sobre o mito da Matintaperera reduziram essa personagem à figura de uma bruxa/feiticeira da Idade Média, pois a caracterizaram como uma mulher velha, feia, assustadora e malvada, abordando, unicamente, o seu aspecto sombrio e apavorante e, consequentemente, apresentando uma visão negativa, estereotipada e preconceituosa da mulher na velhice. Contudo, os resultados parciais desta tese, que investigou narrativas orais da Matintaperera, recolhidas pelo “O Imaginário nas Formas Narrativas Orais Populares da Amazônia Paraense” (IFNOPAP) revelaram uma nova interpretação do ser feminino na senescência, que não vem carregada de estereótipos e preconceitos, mas de novidade, liberdade e atualidade, evidenciando também um protagonismo da mulher madura. Nesse sentido, o objetivo geral deste trabalho é compreender a representatividade da velhice feminina em narrativas orais da Matintaperera. Com objetivos específicos, propomo-nos a verificar a relação existente entre a Matintaperera e a figura da bruxa/feiticeira medieval em narrativas tradicionais da Matintaperera, recolhidas por Walcyr Monteiro e Jairo Costa, bem como examinar o protagonismo da mulher velha em narrativas ifnopapianas da Matintaperera. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, com abordagem qualitativa, cuja metodologia consistiu em: a) revisão da literatura; b) estudo da história da velhice, sobretudo a feminina; c) exame do mito da Matintaperera; d) leituras das coletâneas do IFNOPAP, intituladas Santarém conta…, Abaetetuba conta…, Belém conta… e Bragança conta… e) seleção de quatro contos orais da Matintaperera; f) análise literária das narrativas escolhidas. O referencial teórico deste estudo ampara-se em: Beauvoir (2013), Zimerman (2007), Mucida (2018), Goldenberg (2008), Freud (2016), Salgado (2002), Pires (2006), Debert (1994).


Palavras-chave: Velhice. Sabedoria. Feminino. Narrativas Orais. Matintaperera.

Seminários do PET/Letras

O lugar da memória nas narrativas tradicionais Apurinã (Aruák)

Thiffane Louhanne Nunes dos Santos (PET/Letras)

Resumo

O estudo apresenta os resultados iniciais de um projeto que busca evidenciar as relações semânticas e identitárias construídas a partir das ligações operacionais regidas pela noção de memória atrelada aos elementos narrativos (narrador, personagem, enredo, tempo e espaço), os quais participam da construção e do desenvolvimento de uma narrativa tradicional indígena. Com o objetivo de compreender os processos envolvidos na construção dessas histórias, a exemplo das manifestações estéticas, culturais e históricas do povo Apurinã, especificamente, é feita uma análise dos principais conceitos utilizados na teoria literária sobre memória, tradição identitária e narrativas. Através do aporte teórico basilar, o qual contempla Halbwachs (2006) a Bosi (1979), constrói-se os pressupostos necessários para introduzir uma discussão sobre os aspectos que regem a organização e o desenvolvimento de narrativas tradicionais Apurinã, a exemplo de Maiurukury, Kainari e Cobra Norá. Nesse sentido, evidencia-se que, no que tange às histórias Apurinã, as narrativas orais se configuram como grandes e inestimáveis fontes de preservação e transmissão de heranças identitárias e tradições culturais. São suportes da identidade coletiva e reconhecimento do homem como sujeito da sua própria história e de sua temporalidade. A partir de sua natureza dinâmica, como um gênero específico do discurso, as narrativas orais integram a cultura de diferentes comunidades e incorporam dimensões materiais, sociais, simbólicas e imaginárias de plena dimensão temporal.

Palavras-chave: memória; narrativas orais; Apurinã.

Diversidade Linguística e Ensino de Línguas Minoritárias na Amazônia.

Orientação: Sidney da Silva Facundes, Discente: Rosa Esther de Melo Souza

Resumo

A Amazônia é a região brasileira com a maior concentração de línguas indígenas, as quais vivem lado a lado com diversas variedades de língua portuguesa e com algumas línguas estrangeiras (como: o japonês falado no município de Tomé-Açu, o francês e a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) em Belém do Pará, por exemplo). Essa diversidade linguística apresenta-se envolta a manifestações culturais e literárias várias que refletem também a diversidade social regional. Ao lado dessa realidade, considerando-se o Projeto Político Pedagógico do curso de Licenciatura em Letras – Habilitação em Língua Portuguesa – os profissionais dessa área deverão estar aptos a ensinar a língua portuguesa, tanto como língua materna (Português como Língua Materna), quanto como língua estrangeira (Português como Língua Estrangeira, doravante PLE), conscientes da diversidade existente na região. Deste modo, a atuação do grupo PET/Língua Portuguesa, na UFPA, terá como foco a educação sociolinguística, visando ampliar o conhecimento sobre a diversidade linguística e literária na Amazônia e tópicos correlacionados, tais como o bilinguismo, o multilinguismo, o contato entre línguas e o preconceito linguístico, com vistas a impactar o ensino de língua portuguesa. O PET possibilitará aos alunos de Letras a aquisição e o aprofundamento de conhecimentos específicos de sua área de atuação profissional, oportunizando a partilha desses saberes com estudantes falantes de outras línguas (como os indígenas e os acadêmicos estrangeiros recebidos pela UFPA) bem como com a comunidade acadêmica em geral, além de professores da educação básica. O conhecimento científico poderá ser multiplicado, então, chegando a recônditos que jamais seriam alcançados, senão por meio de ações que promovem a ampla circularidade e troca de saberes. Direcionado a estudantes oriundos de comunidades populares urbanas, o PET de Letras visa alcançar a comunidade de um modo geral, democratizando o acesso a bens culturais.

Investigação metodológica de matérias de português como língua de acolhimento

Elio Ferreira de Moraes Junior (bolsista PET), Sidney da Silva Facundes (co-orientador), Eunice Braga Pereira (orientadora)

Resumo

Neste trabalho foi realizada uma análise comparativa entre dois materiais de língua portuguesa para falantes não nativos: um de Português como Língua estrangeira (PLE) e outro de Português como Língua de Acolhimento (PLAc). O objetivo principal desta pesquisa foi o de verificar as diferenças metodológicas na construção de livros em ambas as modalidades de língua não materna. Para isso, foram selecionados dois materiais direcionados a pessoas que estão iniciando o estudo de língua portuguesa: Um para PLE e outro para PLAc. O resultado parcial desta análise revelou que no livro de PLAc privilegiam-se atividades de compreensão escrita, nas quais os textos abordam sobretudo direitos dos imigrantes, mas que não parecem terem sido adequadamente selecionados em relação à extensão e ao léxico. No livro de PLE, por outro lado, enfatiza-seaoralizaçãodaescrita associadaàs atividadesescritas propriamente ditas; neste caso, os textos são melhor selecionados quanto ao nível de complexidade, contudo não tratam de temas relacionados à imigração em nenhum momento. Isso sugere que no livro de PLAc não há um privilégio à gramática do texto, mas em seu conteúdo, enquanto no livro de PLE esse fator é levado em consideração na escolha dos textos e suas respectivas atividades. Essa diferença de abordagens nos livros em relação à escrita já esboça uma diferença entre PLE e PLAc, demonstrando que ensino para imigrantes pauta- se mais em sua temática e inserção na cultura e sociedade brasileira do que na estrutura da língua do país.

 

Palavras chave: PLE, PLAc, imigrantes, metodologia, português.

ASPECTOS DA CAUSATIVIZAÇÃO NA LÍNGUA ASURINÍ DO XINGU

Antônia Alves Pereira (UFPA) - antonia@ufpa.br

Resumo

A causativização é um fenômeno recorrente nas línguas. Fillmore (1976, p. 182), entre outros autores, analisa-a como um fenômeno linguístico universal. Esse mecanismo está ligado aos componentes semântico, morfológico e sintático, acarretando alterações na significação e na configuração da sentença, afetando a estrutura de participação, a valência e outros mecanismos diretamente relacionados ao fenômeno. Partindo dessa visão sobre causativização, o objetivo deste trabalho é discutir alguns aspectos da causativização na língua Asuriní do Xingu (Tupí-Guaraní), falada pelo povo Asuriní do Xingu que vive no município de Altamira, estado do Pará. O trabalho focaliza alterações semânticas e morfossintáticas pelas quais passa uma sentença derivada por causativização. Os resultados da pesquisa mostram que a causativização morfológica é o tipo predominante nessa língua, sendo os morfemas {mu-}, {eru-} e {-ukat}, responsáveis por ela. Esses causativos, ao se anexarem a uma raiz verbal, introduzem um novo participante no discurso, que assume o papel de causer, fazendo surgir mais um argumento, alterando a estrutura argumental da sentença. Verbos monovalentes passam a bivalentes e estes últimos a trivalentes. O trabalho segue os pressupostos da linguística tipológico-funcional. Os dados foram coletados por nós durante nossas pesquisas junto ao grupo e são provenientes de elicitações, narrativas míticas, narrativas de experiência pessoal e conversas em contexto natural, sendo testados, posteriormente, com apoio de falantes nativos.

 

Palavras-chave: Causativos; Semântica; Morfologia; Sintaxe.

O MAKUNAIMA DE JAIDER ESBELL

Francisco Edyr Sousa da Silva Segundo (Universidade Federal do Pará ), Izabela Guimarães Guerra Leal (Universidade Federal do Pará)

Resumo

A literatura indígena contemporânea no Brasil é um movimento literário alicerçado na expressividade da vivência dos povos indígenas. Jaider Esbell (1979-2021) foi um escritor, artista e ativista makuxi que expressou, em suas obras, a cultura e a resistência indígena no Brasil. Com efeito, ao estudarmos o seu texto “Makunaima — Meu avó em mim!”, constatamos que Esbell (2018) concebe Makunaima como um herói que constitui a ancestralidade makuxi, sendo, por conseguinte, um elemento vital à cultura e à história desse povo indígena. Para tal resultado, apoiamo-nos numa pesquisa bibliográfica fundamentada nos referenciais teóricos de Ailton Krenak (2017), Julie Dorrico (2018) e Lúcia Sá (2012). Portanto, objetivamos com essa comunicação expor a concepção de Makunaima presente nas narrativas esbellianas.

 

Palavras-chave: Literatura indígena contemporânea. Vivência. Jaider Esbell. Makunaima.

Digitalizando anotações linguísticas de textos da língua Wayoro (Tupi)

Tassiane de Jesus dos Santos Bastos, (Graduada em letras-UFPA-campus de Breves), Antônia Fernanda de Souza Nogueira (Docente-UFPA-ILC)

Resumo

Este trabalho tem por objetivo apresentar as dificuldades (e as soluções propostas) procedentes do processo de digitação de dois textos transcritos em Wayoro (família Tupi) e traduzidos em português (PRODOUTOR/UFPA/2021). São textos gravados com uma das duas últimas falantes fluentes dessa língua, localizada em Rondônia. Somam cerca de 10 minutos anotados em 20 páginas. O formato digital de dados de línguas ameaçadas é essencial para o arquivamento em acervos digitais, preservação a longo prazo, manuseio e acesso dos mesmos a qualquer tempo e lugar. Como ferramenta para transferir as anotações originalmente feitas em cadernos de campo físicos, utilizamos o software ELAN (Eudico Linguistic Annotator). Para as configurações de trilhas no ELAN, usamos um modelo de arquivo (template) disponibilizado online por Gaved e Salffner (2014). Um dos obstáculos surgidos refere-se à legibilidade das anotações feitas à caneta. Para sanar esse problema podíamos consultar a pesquisadora que coletou os dados, coordenadora do presente projeto, ou consultar a tese de doutorado dela (NOGUEIRA, 2019). Na tese, há vários dados desses textos dos cadernos de campo que foram corrigidos e revisados pela própria pesquisadora. Outro desafio enfrentado tem a ver com a qualidade do áudio da gravação. Nesse caso, o próprio ELAN possui recursos que possibilitam mitigar esse contratempo. No menu Opções, Modo de Transcrição, há a possibilidade de mudança de volume e de velocidade da mídia. Caso a palavra na língua objeto permanecesse incompreensível, optamos por usar, na metalíngua, a letra x para representar cada sílaba da palavra (SCHULTZE-BERNDT, 2006). Vale apontar, ainda, a importância da alimentação de uma base de dados lexicais, paralelamente à tarefa de anotações de textos. Por exemplo, para uma das sentenças sem tradução no caderno de campo, foi possível propor uma tradução aproximada a partir da consulta à base de dados de Wayoro no FieldWorks Language Explorer (FLEx).

 

Palavras-chave: Documentação Linguística. Anotação linguística. Textos Wayoro.

DESAFIOS NO PROCESSO DE CRIAÇÃO DE UM PEQUENO DICIONÁRIO DIGITAL PARA A LÍNGUA WAYORO

Antônia Fernanda de Souza Nogueira (Docente-UFPA-ILC), Manoel Aldeci Silva Martins Junior (Graduando em Letras-UFPA-campus de Breves), Clenilson Miranda de Sousa (Graduado em Letras-UFPA-campus de Breves)

Resumo

O software Fieldworks Language Explore (FLEx) tem sido a principal ferramenta utilizada para a criação de um pequeno dicionário digital para a língua Wayoro (Tupi), uma língua indígena do Estado de Rondônia que se encontra bastante ameaçada. Nele, há um banco de dados com aproximadamente 700 entradas lexicais, das quais somente cerca de 80 possuem arquivos de áudio e 452 possuem um exemplo de uso. Respaldando-se no campo da documentação linguística, um dos objetivos de nosso projeto de pesquisa (PRODOUTOR/UFPA) é que o máximo de entradas possíveis possuam uma mídia em áudio, visto que ela é essencial ao processo de revitalização da língua e para a verificabilidade dos dados apresentados em pesquisas publicadas. Como metodologia para a inserção de áudio, temos editado gravações de listas de palavras usando o programa Audacity, separando cada palavra em um arquivo de áudio diferente. Um dos principais desafios lidados é a perda dos arquivos de mídias de áudios anteriormente já anexados ao projeto, durante os processos de backup e envio do projeto de um computador para outro conforme os pesquisadores atualizam e utilizam o FLEx em diferentes espaços. Outro objetivo do projeto de pesquisa é que o máximo possível de entradas lexicais apresente pelo menos um enunciado como exemplo de uso. A metodologia utilizada para obter tais exemplos tem sido a digitação de enunciados transcritos e traduzidos em cadernos de campo físicos na aba Textos & Palavras do FLEx, onde há cerca de 1400 linhas já digitadas. Os desafios principais tem sido a tomada de decisões de como organizar os diferentes cadernos de campo no FLEx, como organizar os diferentes gêneros textuais de cada caderno de campo e a compreensão das anotações à caneta. Os dados aqui apresentados foram registrados em pesquisas de campo entre 2008-2017, aldeia Ricardo Franco, Terra Indígena Rio Guaporé.

 

Palavras-chave: Documentação linguística. FieldWorks Language Explorer. Língua Wayoro.

Os parâmetros acústicos das vogais orais do Anambé(Tupi-Guarani)

Autores:

Resumo

Este trabalho apresenta os resultados da descrição de propriedades acústicas das vogais orais da língua indígena Anambé. O Anambé é uma língua indígena falada por um povo de mesmo nome, que reside no município de Moju, sudeste do estado do Pará. A referida língua pertence à família Tupi-Guarani (TG), subgrupo V, conforme classificação de Rodrigues e Cabral (2002). O objetivo deste trabalho é descrever os parâmetros acústicos das vogais orais do Anambé, a fim de acrescentar às descrições já existentes em Julião (1993, 2005), únicos trabalhos de descrição linguística para essa língua. Este estudo é de grande importância, visto o risco de essas línguas desaparecerem, em especial o Anambé, povo que conta com uma população de 135 indígenas (JULIÃO, 2005, p. 26), sendo apenas 5 falantes(JULIÃO, 2005, p. 31). Foram analisadas 215 amostras, divididas em 100 em posição acentuada e 115 em posição não acentuada, em particular na posição pretônica. Os parâmetros acústicos mensurados foram as frequências dos dois primeiros formantes (F1 e F2) e a duração das vogais orais. Os resultados obtidos mostram que há uma grande variabilidade nas zonas acústicas das vogais, especialmente no que concerne à altura das vogais. Os segmentos [a, u, o] exibem maior variabilidade do que seus pares pretônicos. Em relação à anterioridade/posterioridade da língua, as vogais [ɨ] e [ɔ] são as que mais exibem variação, em comparação com suas correspondentes acentuadas. No que diz respeito à duração, as vogais acentuadas mostraram-se mais longas que as não acentuadas.


Palavras-chave: Análise acústica; Vogais orais; Anambé

O espaço nas narrativas tradicionais Apurinã (Aruák)

Thiffane Louhanne Nunes dos Santos (PET/Letras)

Resumo

O estudo apresenta os resultados iniciais sobre as relações semânticas e identitárias construídas a partir das ligações operacionais regidas por um dos elementos mais importantes de uma narrativa: o espaço – o lugar onde se passa a ação (ou as ações) de uma narrativa. Através do aporte teórico basilar, o qual contempla Gancho (2006), Reis (1990), Bachelard (1998) e Montenegro (2001), constrói-se os pressupostos necessários para introduzir uma discussão sobre os aspectos que regem a organização e o desenvolvimento das narrativas tradicionais Apurinã. Nesse sentido, a partir do uso de detalhes de ordem espacial, como a menção à natureza local, práticas cotidianas, os lugares de caça e pesca, localizações geográficas e fatos reconhecidos por um coletivo, garante-se não apenas a verossimilhança (a demonstração de que o episódio narrado é completamente adequado quando consideramos a organização e os costumes da comunidade), mas a evidência de que é no lugar – permeado por elementos e imagens naturais – que sentimentos, pensamentos, pessoas e histórias submersas nas memórias de cada sujeito se amarram diretamente ao cotidiano vivido ou ao mundo circundante, mostrando a profundidade e subjetividade não apenas de um sujeito/indivíduo, mas de um coletivo/povo. Em narrativas tradicionais orais, transparece, então, como a linguagem em seus pequenos detalhes é capaz de criar mundos e como sua energia de criação consegue ser contínua e eficiente.


Palavras-chave: espaço; narrativa; Apurinã.

UMA ANÁLISE PRELIMINAR SOBRE NOMES DEVERBAIS EM ALGUMAS LÍNGUAS ARAWÁK

Camille Cardoso Miranda1 (UNICAMP/FAPESP)

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo analisar a derivação de nomes deverbais nas línguas Arawák, com o propósito de estabelecer padrões tipológicos desse fenômeno nessa família. Baseando-se no agrupamento de Aikhenvald (1999), selecionamos línguas de três subgrupos pertencentes ao Grupo Norte-Arawák: (i) Ta-Arawá (Lokono e Wayuu), (ii) Colômbia (Resígaro e Achagua); e (iii) Alto Rio Negro (Baniwa de Içana e Terena) e selecionamos também línguas que fazem parte de três subgrupos do grupo Sul-Arawák: (iv) Bolívia-Mato Grosso (Terena e Baure); (v) Pareci-Xingu (Mehináku e Paresi) e Campa (Ashéninka e Nanti). Sabemos que todas as línguas têm uma forma de ajustar a categoria gramatical de uma raiz. A nominalização é um processo que ajusta essa categoria (PAYNE, 1997). Esse fenômeno significa em sua essência tornar algo em um nome (COMRIE E THOMPSON, 2007). Assim, ela faz com que uma categoria gramatical se transforme em um substantivo. Neste trabalho, verificaremos o fenômeno de nominalização em verbos. Nomes deverbais são resultados de derivações verbais (V N). Para a realização deste trabalho, a metodologia utilizada foi essencialmente a pesquisa bibliográfica, desenvolvendo os passos seguintes: (i) coleta de dados a partir de publicações disponíveis referentes ao tema proposto; (ii) leitura e análise destes materiais; (iii) constituição de um banco de dados que servirão de exemplos para o processo em estudo. Analisamos quatro tipos de operações nominalizadoras: (i) evento; (ii) participantes; (iii) instrumentais e por fim (iv) a locativa. Como resultado, observamos em uma escala hierárquica de padrões de nominalização das línguas Arawák que a nominalização de participante (principalmente de nomes agentivos) é aquela que é mais suscetível de ocorrer, em seguida da nominalização de evento; a nominalização instrumental/objeto é a terceira mais suscetível, já a nominalização locativa é menos produtiva.


Palavras-Chaves: Morfologia Derivacional; Nomes Deverbais; Línguas Arawák


1 Aluna de doutorado em linguística no Instituto de Estudo da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (IEL/UNICAMP). Bolsista de doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).